Iguais, diferentes ou únicos?

Nunca o mundo foi tão abundante em fórmulas de tudo e para todos. Receitas que ensinam passo a passo como ser milionário, como ser feliz, como se comportar, como se alimentar, como ter sucesso, enfim! Um sem-fim de “como” se deve viver, ser ou fazer.
Há uns anos atrás, eu estaria certa do sucesso universal dessas fórmulas. Hoje sei que a resposta é não ou, pelo menos, não sempre, não para todos.

Após este preliminar, parece pertinente voltar a refletir sobre algumas questões: servirão as mesmas fórmulas para a toda a gente? Todas as pessoas se identificarão com elas?
Enquanto sociedade, temos vindo a assumir implicitamente duas condições: a primeira, é que os métodos “normalizados” de como fazer isto ou aquilo são universalmente válidas e a segunda, que todos funcionamos do mesmo modo.

A comprovar esse facto temos a educação homogeneizada, que é o método que ainda predomina na maioria da humanidade, baseada em padrões e fórmulas com as quais aprendemos a enquadrar-nos em modelos convencionais que nos afastam progressivamente da nossa natureza, criando a maior de todas as desigualdades. Como nos ensina Aristóteles, a pior forma de desigualdade é tentar tornar iguais duas coisas diferentes.

E se, durante o caminho, alguém ousa ser e fazer diferente, a falta de referências para sustentar a sua decisão, a falta de sinalização de para onde seguir caminho, a pressão e o estigma social condicionam, em muitos casos, a pessoa a recuar e voltar ao chamado “normal”.

Depois, quando chegamos à idade adulta, sentimo-nos frequentemente perdidos, sem saber onde ou a quem recorrer, acomodando-nos por vezes a pessoas ou situações conhecidas, por medo de sair da suposta zona de conforto e de enfrentar o desconhecido, sem sabermos que com isso, podemos perder oportunidades de experienciar algo que poderia ajudar a mudar-nos ou a mudar as nossas vidas. E isso leva-me a mais uma questão: afinal somos iguais ou diferentes?

Se pensarmos numa perspetiva abrangente, somos ambas as coisas. Senão vejamos: A nossa “igualdade” passa por áreas como por exemplo a biologia, que nos agrupa na mesma espécie; a ética, que nos atribui os mesmos direitos e deveres na sociedade; ou a cosmologia, que nos mostra que somos regidos pelas mesmas leis do universo. Quanto à nossa “diferença”, essa é habitualmente conotada com questões de ordem racial, cultural ou religiosa.

Muito do que nos iguala ou diferencia e que tem vindo a ser discutido ao longo dos anos, tem sido direcionado particularmente para a área dos direitos humanos. A este propósito, lembro-me de uma frase que se tornou num dos slogans mais usados por tintas, telas e vozes: “todos diferentes, todos iguais”. Mas o inquestionável valor dos movimentos gerados a partir desse conceito revolucionário, foi construído tendo por base os seres humanos enquanto espécie, povo, nação ou cultura.

No entanto, aquilo a que me refiro hoje é algo substancialmente diferente. É sobre particularidades e subtilezas, aquilo que em cada ser lhe dá a sua individualidade, independentemente da raça, cultura ou religião a que pertença. É sobre o que é ser verdadeiramente único.

Se olharmos à nossa volta, observamos o quão diferentes somos. Rostos, corpos, e movimentos singulares tornam cada Ser inigualável e irrepetível. E se aprofundarmos um pouco, percebemosque essa originalidade já é cientificamente comprovada. Os cientistas afirmam que apenas cerca de 0.5% do DNA é único em cada ser humano. No entanto, essa diferença, aparentemente insignificante, é suficiente para que cada código genético defina características particulares como a impressão digital, a forma do movimento, o tom de voz, o olfato, entre muitas outras.

Concordamos então que a genéticas únicas correspondem diferentes potenciais a desenvolver e, por consequência, modos particulares de o fazer, se forem tidos em conta a mecânica e o modo diferenciado como cada pessoa funciona.

Mas o mais interessante é que tudo isto se passa a um nível subtil. É uma energia que sentimos, mas que não consciencializamos. E por isso, não raramente, lhe fugimos, a ignoramos ou a expressamos desadequadamente, simplesmente porque não sabemos como fazer de outro modo.

Até conhecer o Human Design, nunca ninguém me tinha ensinado que as decisões corretas se tomam pelo sentir e não pelo pensamento; nem que decidir segundo a minha natureza, mesmo que alguma decisão representasse um ato de ousadia, era uma oportunidade para me desafiar, para aprender, para me desenvolver e para me ajudar a fazer aquilo que nasci para fazer: amar-me e ser eu mesma.

Essa, é a dádiva desta ciência da diferenciação que é o Human Design: fornecer a cada Ser informação sobre si mesmo e não sobre nenhum outro, propiciando-lhe, se a isso estiver disposto, seguir no caminho da vida rumo ao reencontro com a sua essência.
Mas, sendo uma dádiva, não é, de todo, um conto de fadas ou uma promessa ilusória da vida perfeita. É um convite, um estímulo e uma sugestão para seguir um conjunto de instruções, únicas e particulares para cada pessoa, que irão dar-lhe a possibilidade de, em primeiro lugar, despertar para a consciência de si e do todo. Depois, ao aceitar experimentar viver o novo conhecimento no dia a dia, de transformar a sua vida numa jornada de experiências com oportunidades e desafios, através dos quais aprenderá a aceitar-se, a amar-se a si, aos outros e a render-se à vida. É, em última análise, uma oportunidade para reaprender a sentir.

Termino com as palavras de Clarice Lispector: “Não me mostrem o que esperam de mim porque vou seguir o meu coração, não me façam ser o que não sou. Não me convidem a ser igual porque sinceramente sou diferente”.

Abraço sentido,
Isaura Carvalho

Isaura Carvalho

Isaura Carvalho

Doutorada em Ciências de Enfermagem, com uma carreira de mais de 30 anos na prática clínica, gestão e ensino de Enfermagem. Professora universitária convidada. Experiência ao longo de 10 anos na área da alimentação integrativa. Facilitadora de Biodanza desde 2016. Analista de Human Design formada e certificada pela PHDS.

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