O facto de sermos diferentes não é o único aspecto que temos em comum. A busca por um significado que ofereça relevância à nossa existência é também algo que nos une. Podemos ainda juntar a necessidade do nosso Ser em se sentir satisfeito, reconhecido, em paz ou surpreso, consoante a assinatura do seu Tipo. Resumidamente, enquanto humanos que somos, tentamos prolongar ao máximo uma sensação de bem-estar, vulgarmente denominada por “felicidade”, e extinguir todo e qualquer resquício de dor que nos esteja atormentar.
À primeira vista, até aparenta ser simples este percurso entre o nascimento e a morte. Independentemente do grau de dificuldade inerente, tudo se complica quando nos deparamos com o manancial de desafios com os quais precisamos de lidar. Mesmo que a vida fosse um mar de rosas, ainda assim teríamos de engolir alguns “pirolitos” até aprender a nadar, não é?
A dualidade que o mundo nos oferece, livre de julgamento, é a matéria-prima com a qual podemos (e devemos) esculpir-nos. Nada é bom ou mau, tudo é o que é. E talvez seja aqui que muitos de nós acabam por assumir uma identidade que não é a sua. Não é por colocar o rótulo da pimenta no frasco dos cominhos que esta especiaria ganha outro sabor. A nossa essência é incorruptível. Façamos o que fizermos, nada irá adulterar esta condição. Aquilo que muda, e é perfeitamente maleável, é o nosso comportamento, a atitude que adoptamos perante a existência. Enquanto a nossa forma de ser não se ajustar à forma do Ser que somos, tudo o que nos resta é sofrer.
Como bem sabemos, dentro do caos aparente, reside uma perfeição imperturbável. Nada é deixado ao acaso, nem mesmo a simples leitura deste texto. Com menos ousadia do que aquela que julgamos ser necessária, também podemos incluir-nos nesse lote de eventos sem defeito. Seja qual for o nosso nível de consciência, já somos tudo o que precisamos. Na verdade, sempre fomos. Nascemos prontos para desempenhar o papel que nos foi atribuído. No entanto, a idade, em conjunto com as situações a que nos sujeita, colocou-nos à mercê de um mundo desequilibrado. Um lugar onde a frustração, a amargura, a raiva e a desilusão têm retardado toda a abundância que nos espera.
O mundo nunca esteve perdido — nós é que estamos. Tudo o que nos resta é aceitar este facto e (re)encontrar-nos. Não precisamos de tentar ser melhores pessoas. É suficiente almejarmos ser simplesmente a pessoa que somos, nada mais. Só pode viver quem souber (e quiser) abraçar a sua natureza. A harmonia pode estar mais próxima do que imaginamos. O caminho ainda está disponível para quem se predispuser a percorrê-lo. Vamos juntos, cada um a seu tempo.

Manuel Clemente
Manuel Clemente é um autor português com quatro livros publicados. Adora brincar com as palavras para desconstruir a realidade e questionar o estabelecido. Gosta de dormir para sonhar e de acordar para realizar. Acredita que ninguém é zé-ninguém e que cada um deve tentar viver a sua melhor vida.
“O mundo nunca esteve perdido — nós é que estamos. Tudo o que nos resta é aceitar este facto e (re)encontrar-nos. “
“Descobrir” este texto no final do primeiro fim de semana do Cartography é simplesmente fabuloso. É o resumo simples, mas nada simplista, de tudo o que a Idalina nos transmite.
Que, no meu tempo, venha a “ser simplesmente a pessoa que” sou.
Obrigada Manuel
Muito obrigado pela tua resposta tão atenciosa, Susana. Fico feliz pela tua tomada de consciência e intenção de viver a melhor vida possível. Um beijinho e continua a desfrutar do teu “manual de instruções” 🙂